segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Políticas Públicas de Inclusão Digital?
Muitos foram os avanços tecnológicos alcançados em nosso país nos últimos anos. Porém, grande parte da movimentação em torno dos meios de comunicação digitais se deve a uma necessidade do próprio mercado de construir e aumentar cada vez mais um nicho com excelentes projeções lucrativas. Parte dessa movimentação para o incentivo à inclusão digital se dá justamente por conta da exploração deste mercado.
Mas o processo que se segue no Brasil vai muito além. Hoje, nossa declaração do IR só se dá via web. Alguns órgãos e empresas só aceitam reclamações por telefone ou e-mail. Dia desses soube de um caso onde uma pessoa não conseguiu cancelar sua linha telefônica pessoalmente, pois só poderia fazer isso pela Central de Atendimento, por telefone ou pela internet. A partir daí podemos ver algumas restrições a quem não tem acesso à tais meios de comunicação. Uma restrição que atinge, inclusive, seus direitos de exercer sua cidadania. Então, um sujeito sem acesso à internet não é mais um cidadão?
O que se pode verificar circulando pela web é que a necessidade de se incluir na rede fez com que os próprios cidadãos se movimentassem. Um dos bens de consumo mais procurados e adquiridos no país nos últimos anos é o computador. Todos têm sua máquina digital, postam suas fotos nas redes sociais, organizam festas, compram, vendem, procuram emprego, montam negócios, se prostituem, compram drogas, aplicam golpes. Há um mundo igual ao real dentro do mundo virtual. Não é preciso dizer que todos têm que ter acesso à internet e seus serviços. A necessidade já foi criada pelo mercado, e da mesma forma que todos os brasileiros têm uma TV na sala de estar, acredita-se que em poucos anos todos também terão um roteador para que toda a família se conecte simultaneamente e possa exercer sua cidadania.
Não acredito que há políticas públicas no pais no futebol que dêem conta de promover a inclusão digital para todos. É tão utópico quanto achar que passeatas e movimentos no facebook irão mudar alguma coisa fora da realidade virtual. A verdadeira promoção da inclusão digital está sendo feita pelo mercado.
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
O PÚBLICO E O PRIVADO
As discussões sobre a dualidade público-privado se fazem cada vez
mais importantes no contexto social em que vivemos. Não só
por toda a questão exposta por Bauman, sobre o indivíduo tornar público o
que há menos de três décadas era privado, mas também pela forte
influência das redes sociais e da mídia, como um todo, na formação de
opinião, e até mesmo na formação de caráter do indivíduo.
O que assistimos diariamente, quando somos bombardeados pelos
veículos de comunicação com propagandas, falsas notícias, informações
manipuladas, é a exposição de falsos valores a serem seguidos, para
sustento de uma economia capitalista, pautada no lucro e na manutenção
das grandes instituições financeiras. Sem se preocupar com o ser humano,
essas ações midiáticas vivem a serviço do chamado “capitalismo
selvagem”. E, no decorrer dos últimos anos, além de uma “terceirização”
de serviços por parte do Estado, como afirmou Bauman, o Estado
descaradamente trabalha pela e para a economia, e esquece que sua
principal tarefa é defender os interesses de toda a comunidade.
A todo esse movimento, unem-se os dois em um acordo para benefício
próprio: a mídia e o Estado. O colapso é iminente. E estamos, como
afirma o sociólogo no vídeo, à beira de uma grande mudança nas
estratégias construídas pela democracia para administrar o Estado, e, a
partir desse colapso, também teremos a oportunidade de rever nossa visão
de mundo. Porque, nesse jogo de interesses, não é só o Estado e a mídia
que colabora com a falência social que enfrentamos. Somos também os
culpados por tamanho descaso com o Homem, como espectadores ferrenhos do
privado no lugar do publico, e como atuantes quando deixamos que nossas
necessidades narcísicas, nossos fetiches exibicionistas e voyeurísticos
nos dominem e nos entregamos às redes. Em parte, está em nossas mãos o
que faremos do nosso futuro. Mas só nos daremos conta disso quando
tivermos a real dimensão de nossa responsabilidade em todo esse
processo. Enquanto estivermos focados no privado, nossa vida pública
estará na privada.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
MUITO PRAZER – O PRAZER DE LER FREUD
Nos primeiros dias de contato com a obra Freudiana,
tive a excelente idéia de “traduzir” Freud para uma linguagem mais acessível a
nós, graduandos de psicologia. O nome do livro (super criativo!) seria “Freud
Além da Aula”, e eu tinha como certo seu sucesso entre estudantes, acadêmicos,
ou mesmo curiosos que quisessem se inteirar de nossos conhecimentos sobre a
psique humana. Mal sabia eu que esse livro já havia sido escrito, sob o título
de “O prazer de ler Freud”, por Juan David-Nasio, e, acho que é sucesso,
baseado na escassez de exemplares e na dificuldade de adquirir um para esta
resenha.
Entre tantos livros sobre Psicanálise, encontramos em
“O prazer de ler Freud” um texto claro, rico, estimulante, e que consegue
despertar realmente nosso interesse em ler cada vez mais as obras deste grande
pensador, Sigmund Freud. Já no início do livro, o autor, Juan David-Nasio, nos
informa sobre seus claros objetivos: apresentar o essencial da teoria Freudiana
e se tornar um instrumento para ler e compreender Freud. E, mesmo que para
muitos seja impossível conceber que se possa ter em poucas páginas o essencial
da teoria psicanalítica, o autor consegue, sem sobra de dúvida, pelo menos
conduzir o leitor de forma precisa e sedutora, à compreensão de muitos
conceitos chave para o entendimento da Psicanálise, o que é de grande valia
para nós, estudantes de psicologia.
Nasio, é um psicanalista argentino radicado na
França, é contemporâneo de Jacques Lacan e autor de inúmeras obras, tais como
"A Histeria", "Como trabalha um psicanalista?", ‘O Olhar em
Psicanálise", “Cinco lições sobre a teoria de Jacques Lacan", entre outras.
Atualmente se dedica à prática clínica e leciona na Universidade Paris VII,
além de se envolver constantemente com a transmissão da Psicanálise.
Nasio tem uma característica peculiar; ainda que
passe por temas densos e complexos, escreve fácil, o que é bastante diferente
de simplificar as coisas. Transmitir a Psicanálise é uma tarefa que requer um
constante diálogo com interlocutores que não são claramente identificáveis,
como freqüentemente Freud fazia em seus textos.
O desejo do autor, é que com esse livro, o leitor
possa ter prazer ao ler Freud. "o prazer de pensar e de compreender o
nosso funcionamento psíquico. "(p.15), e para isso ele destaca alguns
conceitos fundamentais onde se fundam o edifício freudiano; o inconsciente, o
recalcamento, a sexualidade, o complexo de Édipo, o eu-isso-supereu, a
identificação e a transferência no tratamento analítico. E como falar
"fácil" desses conceitos?
O autor demonstra muita habilidade, com notável
empenho em achar palavras que exprimam com clareza surpreendentes aspectos que
levaríamos algum tempo tentando compreender nos livros. Destacam-se alguns que
certamente ilustram nossa impressão, como por exemplo, no caso do recalcamento
em que faz uso de um exemplo da moça que tinha uma fobia por aranhas, mas que
na verdade isso a remetia a um desejo proibido pelo pai, que tinha mãos aveludadas,
como o dorso de uma aranha. Isso mostra que Nasio segue os passos de Freud,
pois este também recheava de exemplos do cotidiano e da clínica seus relatos, o
que favorece certo encantamento no leitor, que pode vislumbrar nos relatos
alguma possibilidade de também escrever a partir de sua experiência pessoal, de
se "contagiar" por esse entusiasmo na prática psicanalítica.
Os principais temas
desenvolvidos no livro são: o inconsciente, o recalcamento, o narcisismo, a
sexualidade, pulsões de vida e de morte, o complexo de Édipo, as três
instâncias psíquicas que são o eu, o isso e o supereu, o conceito de
identificação e a transferência no tratamento analítico. A o transitar por todos estes conceitos, ele
consegue fazer com que o leitor atento internalize a base da Teoria
Psicanalítica, dando-nos ferramentas importantes para o desenvolvimento de um
saber teórico que, no momento oportuno, será utilizado para embasar nossos
saberes clínicos.
O autor finaliza o livro
de maneira prática, com citações e excertos que julga ter relevada importância
na obra de Freud e, como já havia dito no princípio, torna a publicação uma
espécie de instrumento para que possamos ler interpretar e compreender os
escritos do grande mestre da psicanálise. Uma obra limpa, clara, que vai direto
ao ponto e consegue nos despertar ainda mais a curiosidade e o encantamento
pelos escritos de Sigmund Freud.
O Prazer de Ler Freud
Nasio, Juan-david
JORGE ZAHAR
Nasio, Juan-david
JORGE ZAHAR
Onde encontrar:
Livraria Entrelinhas
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
A Fábrica do Poema
Sonho o poema de arquitetura ideal
Cuja própria nata de cimento
Encaixa palavra por palavra, tornei-me perito em extrair
Faíscas das britas e leite das pedras.
Acordo;
E o poema todo se esfarrapa, fiapo por fiapo.
Acordo;
O prédio, pedra e cal, esvoaça
Como um leve papel solto à mercê do vento e evola-se,
Cinza de um corpo esvaído de qualquer sentido
Acordo, e o poema-miragem se desfaz
Desconstruído como se nunca houvera sido.
Acordo! os olhos chumbados pelo mingau das almas
E os ouvidos moucos,
Assim é que saio dos sucessivos sonos:
Vão-se os anéis de fumo de ópio
E ficam-me os dedos estarrecidos.
Metonímias, aliterações, metáforas, oxímoros
Sumidos no sorvedouro.
Não deve adiantar grande coisa permanecer à espreita
No topo fantasma da torre de vigia
Nem a simulação de se afundar no sono.
Nem dormir deveras.
Pois a questão-chave é:
Sob que máscara retornará o recalcado?
(Adriana Calcanhotto)
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